segunda-feira, 25 de julho de 2016

O strip-tease de João Santana

Por Josias de Souza.

Defesa de Santana é um strip-tease ao contrário
O depoimento prestado por João Santana a Sérgio Moro teve a aparência de um strip-tease ao contrário. O marqueteiro do PT entrou na sala de audiências nu. E passou a se vestir com o maior despudor na frente do juiz da Lava Jato. Santana já havia ensaiado a cena com seus advogados. “Bota mais!”, orientaram os defensores. “Bota mais!”

Arte de CAZO


Coube à força-tarefa da Lava Jato despir Santana. Seu umbigo veio à luz quando os investigadores farejaram a conta secreta que mantinha na Suíça. Seguiu-se um desnudamento progressivo, em camadas. De repente, o mago do marketing estava —horror, frisson!— com as vergonhas totalmente expostas.

Pelado involuntário, Santana foi recolhido à carceragem de Curitiba antes que tivesse tempo de se preparar para a nudez. Os US$ 7,5 milhões roubados da Petrobras que os investigadores encontraram entesourados em sua conta suíça dificultaram-lhe os movimentos. Sem jogo de corpo, Santana rogou a Moro que não o filmasse. Foi atendido.

Arte de PATER


O juiz concordou em gravar apenas o áudio do interrogatório. “É preciso rasgar o véu de hipocrisia que cobre as relações políticas e eleitoras no Brasil e no mundo”, disse Santana a alturas tantas, pousando a metáfora como um eufemismo sobre sua reputação em frangalhos. Há “caixa dois” em 98% das campanhas eleitorais, declarou.

Faltando-lhe melhor ideia, Santana encontrou em Duda Mendonça uma estratégia prêt-à-porter, pronta para usar. Pilhado recebendo verbas no exterior de Marcos ‘Mensalão’ Valério, Duda também fez do caixa dois sua armadura. Para Santana, não se deve abandonar uma desculpa esfarrapada só porque saiu de moda.

Arte de SAMUCA


O marqueteiro do petrolão encurtou um pouco a bainha, alargou nos ombros, folgou na cintura, colocou uns babados de renda… Pronto! A desculpa está nova em folha. A corrupção, a lavagem de dinheiro, a evasão de divisas, a sonegação de impostos… tudo isso vira um mero “deslize” de caixa dois.

O diabo é que João Santana teve a má sorte de ser arrastado para o centro do palco num instante em que o país está de saco cheio de truques. Sérgio Moro e a plateia notaram que o modelito recauchutado por Santana, com mais de dez anos de uso, já não orna com os novos tempos.

Arte de  SID


“O que eu não entendo e não me conformo é com o fato de eu e minha mulher estarmos sendo acusados, injustamente, de corrupção, formação de organização criminosa e de lavagem de dinheiro”, queixou-se Santana a Moro. “De estarmos sendo tratados como criminosos perigosos. E de estarmos servindo, involuntariamente, aos interesses dos que sempre tentaram ligar o marketing político a atividades obscuras e antiéticas.”

Suprema ironia: na propaganda eleitoral das campanhas presidenciais do PT, Santana esgrimiu a tese segundo a qual a lama escorre na República porque Lula e Dilma soltaram as rédeas da PF e vitaminaram a Procuradoria. Agora, queixa-se das injustiças da vida. A despeito dos seus esforços, continua nu em cena.