terça-feira, 27 de setembro de 2016

Um alerta da Dra. Janaína Pascoal

Por Janaína Pascoal

Recebido por Whatsapp

Bom dia.

Quero deixar claro que não conheço os integrantes da força-tarefa da Lavajato, também não conheço o juiz Moro. Também acho importante deixar claro que não concordo com todos os posicionamentos adotados e propostas defendidas pela força-tarefa. No entanto, diante da celeuma instalada em torno da entrevista concedida pelos Procuradores, gostaria de tecer algumas considerações.

Não sei se todos sabem, mas os Procuradores, como ocorrera com Dr. Júlio Marcelo, foram, inclusive representados junto ao CNMP. Fizeram bem os Procuradores ao conceder a entrevista. O tema é árido e eles estão enfrentando pessoas poderosas e muito bem articuladas. Até mesmo para os chamados operadores do Direito, questões referentes à criminalidade econômica são complexas. O tema "lavagem de dinheiro" é ainda mais complicado. Se os crimes de que fomos vítimas não forem explicados, o processo não prosperará.

Não sei se a denúncia será recebida; também não sei se Lula será absolvido, ou condenado. Mas tenho certeza de que Lula tem aliados fortes, em posições estratégicas, por isso a população precisa estar ciente de seus crimes.

Vejam, não estou dizendo que não há crimes e, por isso, faz-se necessário criar clamor popular. É justamente o contrário! 

O MPF descreveu muitos crimes, sabe que enfrenta uma pessoa especialmente forte e, por isso, tem que conscientizar a sociedade. E não pensem que Lula não tem admiradores (seguidores) dentro do próprio Ministério Público. Eles estão em todos os órgãos.

Esperem. Logo, Professores de Direito das melhores Faculdade do país começarão a publicar pareceres e artigos em defesa de Lula. 

Foi assim na época do Mensalão. Pesquisem quantos artigos de juristas foram publicados, "denunciando" o viés persecutório do processo. 

Os Procuradores não são bobos. Mais do que convencer o juiz e os Tribunais, eles precisam mostrar para o povo o que está ocorrendo. Os Procuradores sabem que, no silêncio, a melhor das denúncias será esmagada. O PT criou um exército de titulados para defendê-lo. O mais difícil é que esse exército se apresenta como apartidário.

Janaina Pascoal ,
Professora livre docente de direito penal na USP e advogada .

domingo, 25 de setembro de 2016

Massacre nos tribunais

Deu no Besta Fubana

Um placar histórico


A Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve hoje na última quinta-feira, 22, por 13 votos a um, o arquivamento da representação contra o juiz federal Sérgio Moro interposta por 19 advogados em abril deste ano. Os profissionais recorreram contra a decisão do corregedor-regional da 4ª Região, proferida em junho, de arquivar as reclamações contra o magistrado encarregado de julgar os processos da Operação Lava Jato.



Na representação, os autores pediam a instauração de processo administrativo disciplinar (PAD) contra Moro e seu afastamento cautelar da jurisdição até a conclusão do PAD.

Segundo o relator do processo, desembargador federal Rômulo Pizzolatti, não há indícios de prática de infração disciplinar por parte de Moro. Ele ressaltou que a Operação Lava Jato constitui um caso inédito no Direito brasileiro, com situações que escapam ao regramento genérico destinado aos casos comuns.

A publicidade das investigações tem sido o mais eficaz meio de garantir que não seja obstruído um conjunto, inédito na administração da justiça brasileira, de investigações e processos criminais – ‘Operação Lava-Jato’ -, voltados contra altos agentes públicos e poderes privados até hoje intocados”, avaliou Pizzolatti.



O desembargador observou que o Supremo Tribunal Federal (STF) permite, em casos excepcionais, a violação de correspondência, para que a garantia constitucional não constitua instrumento de práticas ilícitas. “Por razões análogas, o sigilo das comunicações telefônicas – expressamente relativizado pela Constituição – não poderia favorecer condutas ilícitas de investigados, tendentes à obstrução das investigações criminais”, afirmou Pizzolati.

Na conclusão de seu voto, voltou a destacar o ineditismo da Operação Lava Jato que, segundo ele, “traz problemas inéditos e exige soluções inéditas”.



Em tal contexto, não se pode censurar o magistrado, ao adotar medidas preventivas da obstrução das investigações da Operação Lava Jato. Apenas a partir do precedente do STF (Reclamação nº 23.457) é que os juízes brasileiros, incluso o magistrado representado, dispõem de orientação clara e segura a respeito dos limites do sigilo das comunicações telefônicas interceptadas para fins de investigação criminal”, concluiu.

Uma decisão por 13 votos contra 1 é praticamente uma unanimidade.

E tinha que ter o número 13, a dezena da podridão, já que estamos falando de uma poderosa quadrilha do tipo 171, aquela que é composta por meliantes que odeiam o Dr. Sérgio Moro.

É um conforto e um honra pro destemido juiz saber que tem contra ele esta cambada de cabras safados.

Isto só faz brilhar mais ainda o currículo do nobre magistrado, o verdadeiro Herói do Povo Brasíleiro!

Link

Fundo Partidário nas eleições

EDITORIAL FOLHA SP
25/09/2016


Vícios arcaicos
É espantosa a resistência de certos vícios brasileiros. Tome-se, por exemplo, a indistinção entre o público e o privado, a partir da qual Sérgio Buarque de Holanda erigiu sua notória interpretação do país. O hábito daninho, originário do período colonial, perpassou séculos e adaptou-se a distintas configurações, cedendo pouco.

Levantamento desta Folha detectou provas desse arcaísmo político na campanha eleitoral de alguns Estados, nos quais candidatos a prefeito e vereador que são parentes de caciques partidários foram beneficiados por fatias bem generosas do Fundo Partidário.

Arte de MIGUEL


Em Salvador, a campanha de Taisa Gama para a Câmara Municipal recebeu R$ 200 mil do PTB, mais que a soma destinada aos candidatos da sigla a prefeito em Porto Velho (RO) e Teresina (PI). Taisa disputa seu primeiro pleito, mas traz um trunfo do berço: é filha do deputado federal Benito Gama, vice-presidente nacional do PTB.

Em outro caso, atribui-se à influência do ministro da Saúde, o paranaense Ricardo Barros (PP), o vultoso aporte de recursos aos candidatos do Paraná (R$ 2,2 milhões), à frente de outros Estados pelos quais a sigla elegeu número maior de congressistas. A filha do ministro, Maria Victória, concorre à Prefeitura de Curitiba; o irmão, Silvio Barros, à de Maringá.

Arte de IOTTI


A prática sem dúvida não se restringe a esses dois Estados, citados apenas a título ilustrativo. O veto às doações empresariais, com efeito, fez do Fundo Partidário a principal fonte de financiamento dos candidatos. Nos últimos três anos, em meio a uma das piores recessões do país, a dotação da União aos partidos saltou de R$ 308 milhões para R$ 868 milhões.

Num cenário de escassez de verbas e de regras morais maleáveis ao sabor da ocasião, pode-se imaginar a volúpia com que muitos se valem do fundo em proveito próprio, de familiares ou amigos. Aos correligionários sem pedigree, em casos extremos, o sepultamento da candidatura será inevitável.

Arte de PAIXÃO


Decerto os partidos devem ter autonomia para priorizar as candidaturas que mais lhes convêm, mas o mínimo que se espera é a existência de limites mais rígidos e transparentes para o emprego do Fundo Partidário.

Não se trata somente de questionar a ausência de mecanismos democráticos nessas siglas. Apropriando de verbas públicas, os caciques perpetuam não apenas seus clãs, mas também um conjunto de práticas antirrepublicanas das quais há muito o país quer se livrar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A memória é sua eternidade

Por Fabíola Simões.

Esse texto circula na web há anos, mas não perde sua essência.

O que a memória ama, fica eterno
Quando eu era pequeno, não entendia o choro solto de minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro.

O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis.
Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender.

O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

É que a memória é contrária ao tempo.
Nós temos pressa, mas é preciso aprender que a memória obedece ao próprio compasso e traz de volta o que realmente importou, eternizando momentos.

Crianças têm o tempo a seu favor e a memória muito recente. Para elas, um filme é só uma animação; uma música, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente se despede.
Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis.
Nossos filhos são nossas crianças, os amigos estão perto, nossos pais ainda são nossos heróis.

A frase do título é de Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno”.
Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente.

Quando nos damos conta, nossos baús secretos_ porque a memória é dada a segredos _ estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você _ foi a trilha sonora de um amor, embalou os sonhos de uma época ou selou uma amizade verdadeira _ e mesmo que os anos tenham se passado, alguma parte de você se perde no tempo e lembra alguém, um momento ou uma história.

Ao reencontrar Amigos da juventude, do Colégio ,nos esquecemos que somos adultos e voltamos a nos comportar como meninos cheios de inocência, amor e coragem.

Do mesmo modo, perto de nossos pais, seremos sempre “As Crianças”, não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos.
Para eles, a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das histórias contadas ao cair da noite… serão sempre recentes, pois têm vocação de eternidade.

Por isso é tão difícil despedir-se de um Amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas.

Dizem que o tempo cura tudo, mas talvez ele só tire a dor do centro das atenções. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na ferida.
Mas aquilo que amamos tem disposição para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando.

Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que nos tocou pode ser facilmente reativado por novos gatilhos _ uma canção cala nossos sentidos; um cheiro nos paralisa lembrando alguém; um sabor nos remete à infância.

Assim também permanecemos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex amores, amigos, irmãos.
E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram."

domingo, 18 de setembro de 2016

Aos jovens, agora órfãos, da esquerda.

Por Stephen Kanitz

Aos jovens, agora órfãos, da esquerda.
E agora, o que um jovem de esquerda deveria fazer ou sonhar?

90% de meus colegas da faculdade de Economia, pelo menos os que se achavam mais inteligentes, eram de esquerda. 

Queriam mudar o mundo, salvar o Brasil, expulsar o FMI e acabar com a pobreza. 

Cabulavam as aulas e viviam no centro acadêmico com pôsteres de Che Guevara discutindo como tomar o poder. 

A ideia de ajudar os outros fazendo trabalho voluntário na periferia nem lhes passava pela cabeça.

O resto era de centro. Comunitários, liberais e libertários, mais preocupados em libertar o Brasil de uma ditadura do que em implantar outra, a do proletariado.

Para minha surpresa, quando fiz o mestrado em Harvard, a totalidade de meus colegas era apolítica.

Eles estavam lá para estudar.

Adquirir conhecimentos úteis à sociedade e talvez ficarem ricos. 

Por isso estudavam, para meu enorme desespero, vinte horas por dia.

Mas, mesmo com essa carga de estudo, todos faziam trabalho voluntário, um dos requisitos inclusive para a admissão ao MBA. 

Quarenta anos se passaram, e na última reunião quinquenal dos ex alunos de Harvard constatei que todos ficaram ricos como pretendiam. 

Eu a única exceção, Prof. da USP que era. 

Ricos, eles devotam a maior parte do tempo a causas sociais e doam bilhões ao terceiro setor. 

Mesmo eu que não sou rico, pude com pouco dinheiro criar o primeiro site de voluntários, o www.voluntarios.com.br, criar o Prëmio Bem Eficiente para Entidades Beneficentes, que a velha esquerda nunca apoiou, porque eles estavam ocupados tentando se eleger. 

A reunião com meus colegas da USP foi ainda mais surpreendente. 

O mais engajado na época, o que mais pregava a luta de classes, é hoje o economista chefe de um grande banco. 

João Sayad, meu colega socialista e portanto menos radical,foi dono de banco, junto com Philippe Reichstull, ex presidente da Petrobras.

“Cansei de ajudar os outros” (sic), “estou ficando velho, preciso me preocupar com minha aposentadoria“.

“Quem não é de esquerda quando jovem não tem coração, quem continua quando velho perdeu a razão“.

Desculpa esfarrapada e ofensiva para velhos como nós que temos ainda coração.

Um dos meus colegas, funcionário público tinha sonhos horríveis. “Sonhei que era um velho mendigo, dormindo na sarjeta“. 

Foi quando aderiu à corrupção.

Jovens de esquerda ouçam bem.

Vocês ainda não têm competência para mudar o mundo e acabar com a pobreza.

Falta-lhes conhecimento para tocar um botequim, como a Dilma, muito menos uma revolução.

Estudem. Sejam úteis à sociedade, em vez de sonhar com um emprego público porque é garantido e mais seguro.

Antes de mudarem o mundo, mudem primeiro o bairro via meu www.voluntarios.com.br, para depois mudar seu Estado e o país. 

Percebam que Dilma, Nelson Barbosa, Luciano Coutinho, Aloizio Mercadante, Guido Mantega, Sergio Gabrielli, João Stédile, todos economistas de esquerda, só pioraram o mundo com sua arrogância, autoritarismo e incompetência administrativa.

Sejam de direita pelos menos nos seus primeiros 20 anos, estudem, casem bem, criem filhos honestos, não traiam suas esposas por aí. 

Sejam de esquerda dos 50 anos em diante, distribuindo a sua riqueza, trabalhando para os outros em vez de ficar cagando regras e cocô na Paulista, ou sendo procurados como terroristas.

sábado, 17 de setembro de 2016

Respondendo a Lulla

Pelo juiz Eduardo Perez Oliveira, do Tribunal de Justiça de Goiás

Recebido pelo whatsapp

Servidores públicos não são ladrões
Para meu espanto, hoje me deparei com uma frase supostamente dita pelo Sr. Luis Inácio Lula da Silva, a saber:

“O político, por mais ladrão que seja, todo ano tem que enfrentar o povo, sair na rua e pedir voto. O funcionário público não. Ele faz concurso e fica lá, com o cargo garantido, tranquilo”




Eu fiquei em dúvida se era verdade, já que tem tanta mentira por aí sendo espalhada. Chegaram a inventar, vejam só, que os procuradores tinham dito não possuir provas contra o Sr. Luis Inácio, somente convicção, o que é uma tremenda inverdade. Não se pode mesmo acreditar em tudo na internet.

Verdade ou mentira, fiquei aqui pensando se essa frase faz sentido.

Eu estou Juiz de Direito, aprovado em concurso público, também em outros cargos antes de lograr esta graça. Como a memória da gente é falha, eu me esforcei para lembrar como foi o processo.



Conferi, cuidadosamente, se eu não tinha sido financiado por alguma empreiteira. Também verifiquei se eu não tinha obtido meu cargo desviando dinheiro de alguma empresa pública, fazendo aí um caixa 2 para me apoiar. Pode ser a idade, mas não me veio à memória disso ter acontecido.

O que me recordo é do esforço dos meus avós, dos meus pais e dos meus familiares, mas muito esforço mesmo, para garantir educação, sem luxos. Também não me é familiar ter participado de esquemas ou ajustes partidários. Não dava tempo, saindo de casa para trabalhar às sete da manhã e voltando às nove, dez horas da noite, só com o horário do almoço para abrir os livros e enfrentar o escárnio.



Eu lembro de ter estudado muito, da frustração em razão do pouco tempo, das dúvidas se algum dia eu chegaria lá. Eu me recordo bem do dia da minha prova oral, num estado onde não conhecia ninguém, tremendo diante dos examinadores de uma banca absolutamente imparcial presidida pelo Desembargador Leandro Crispim.

Quem sabe estaria mais calmo se eu tivesse feito coligação, se uma mão lavasse a outra, se algum ajuste, talvez aquele esquema... Mas não daria certo. Veja você que eu estava prestando um concurso público e até a fase oral eu não tinha rosto, e a banca (que injustiça!) também era formada quase que absolutamente por gente concursada, magistrados aprovados em um concurso semelhante.

Arte de AMARILDO


Não iria adiantar caixa 2, apoio parlamentar, conversa de bastidor. Eu estava ali para ser examinado imparcialmente pelos meus conhecimentos. Era só Deus e eu.

Vai ver, pensei, que meu caso é um daqueles fora da curva, uma das tais histórias malucas. Quem sabe a regra não fosse a interferência política e econômica nos concursos?

Conversei com vários colegas juízes e, fato estranho, todos confirmaram que não fizeram caixa dois, nem coligação, nem tiveram conversas de bastidores. Estudaram, com muito esforço, alguns com privação, e foram aprovados em um concurso impessoal e imparcial.






Para não dizer que é coisa de juiz, essa tal elite, falei com meus amigos procuradores, promotores, escreventes, oficiais de justiça, policiais civis e militares, delegados, professores, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e tantos outros aprovados em concurso público de provas e títulos.

Todos deram a mesma resposta: lograram êxito após muito estudo, de forma limpa e transparente.

"Mas nenhuma empreiterazinha?", insisti. "Quem sabe alguma verba de emporesa pública?". Não. Foi estudo mesmo.

O mais curioso é que todos tiveram que apresentar certidão de antecedentes criminais, logo, nenhum podia ser ladrão. Nem ladrão, nem outra coisa. Algumas carreiras fazem sindicância de vida pregressa. Ai do candidato que não possui um passado ético, com certeza não entraria pela estreita porta do concurso público.

Arte de JORGE BRAGA


Aproveitei e, ainda meditando sobre a frase, me peguei pensando se todo ano, ou melhor, a cada quatro anos (alguns, oito), eu precisava enfrentar o povo.

Realmente, se o Sr. Luis Inácio disse isso, ele está certo. Eu não enfrento o povo anualmente. Aliás, eu não enfrento o povo. Não tenho medo da minha gente, nem litígio com ela. Eu sou povo também. Pode parecer surpresa, mas concursado faz parte da nação.

Eu não enfrento, eu atendo. Eu recebo preso. Eu recebo mãe de preso, pai, vó, filhos, esposa de preso. Recebo conselheiro tutelar. Recebo advogado. Recebo as partes também. Ouço a vítima do crime, ou, em situações mais tristes, os que sobreviveram a ela. Eu vejo o agrícola que vai pedir para aposentar. Vejo o cidadão que não tem medicamento, da mãe que busca escola pro filho, o neto que busca uma vaga de UTI pro avô.

Arte de SPONHOLZ


Eu cansei de ver o piso do fórum gasto de passar tanto calçado, de chinelo usado a sapato caro, de gente que vê no Judiciário seu único porto seguro. Gente que não conseguiu vaga em escola, em creche. Que não conseguiu remédio. Que se acidentou na estrada esburacada. Que trabalhou nesse calor inclemente do Centro-Oeste por quarenta anos ou mais, com a pele curtida de sol, e quando foi pedir aposentadoria disseram a ele que não tinha prova. Não sou quiromante, mas eu aprendi a ler a mão e o rosto desse povo. Aprendi a falar a língua deles, não porque eles vão votar em mim, mas porque é minha obrigação para aplicar a lei.

Essa mesma gente que os políticos enfrentam (enfrentam, vejam vocês!), segundo a tal frase, eu atendo todo dia. É meu dever, e com que prazer eu realizo esse dever!

Eu atendo essa gente que vem acreditando há décadas nesses políticos que, como um fenômeno natural, aparecem apenas de forma episódica e em determinadas épocas. Um povo que acreditou que teria saúde, educação, segurança, lazer, trabalho, aposentadoria, dignidade e tantos direitos básicos só por ser gente, mas não tem.


Arte de MIGUEL

Esse mesmo povo que vota, que deposita na urna sua esperança, a recolhe depois despedaçada, cola o que dá e procura o promotor ou o defensor público, servidores concursados, quando não um nobre advogado dativo ou pro bono, para pedir ao juiz esse direito sonegado. São os concursados que garantem esse direito.

São os juízes que aplicam a lei criada pelos políticos eleitos para o Legislativo, e nessas horas em que a lei é dura e talvez não tão justa, quando devemos fazer valer o seu império, só nos resta ouvir e consolar.

Juízes, é preciso dizer, não são máquinas, porque nessas engrenagens desprovidas de coração que formam o sistema, é a nossa alma que colocamos entre os dentes do engenho para aplacar seu cruel atrito.



E quando estamos sozinhos, nós sofremos, nós choramos, porque lidamos também com a desgraça do povo, do nosso povo, do povo do qual fazemos parte e que não enfrentamos, mas atendemos.

Perguntei aos meus amigos promotores, defensores, escreventes, analistas, oficiais de justiça, professores, policiais, guardas civis metropolitanos, agentes carcerários, bombeiros, militares, médicos, agentes de saúde, enfermeiros e tantos outros, se eles por acaso enfrentavam o povo, mas me disseram que esse povo eles faziam era atender.

É também a alma deles que lubrifica essa máquina atroz que é o sistema.

É à custa da alma do concursado que o Estado se humaniza. Que o digam nossas famílias, nossos amigos... que digamos nós, quando abrimos mão de tanta coisa para cumprir nossa missão, quando para socorrer um estranho muitas vezes alguém próximo a nós precisa esperar.

Aumentem o som


Forçoso que se concorde, nós não enfrentamos o povo a cada dois, quatro anos. Nós o atendemos dia e noite, nós olhamos seu rosto, tentamos aplacar sua angústia em um país em que tudo falta, quando um médico e sua equipe não tem nem gaze no hospital público.

E fazemos isso porque amamos nossa profissão, seja ela qual for, não porque precisamos de votos. Nós chegamos onde chegamos com dedicação, não com esquemas, e sem lesar o patrimônio público ou a fé da nação.

São servidores públicos concursados que estão descobrindo as fraudes que corroem nosso Brasil, do menor município à capital do país, e serão servidores públicos concursados a julgar tais abusos. São servidores públicos concursados que patrulham nossas ruas, que atendem em nossos hospitais, que ensinam nossas crianças.



Nós não precisamos prometer nada para o povo, nós agimos.

Realmente, é preciso temer pessoas que possuem um compromisso com a ética, não com valores espúrios.

#servidorespublicosnaosaoladroes

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Lulla versus a Lei

Por Josias de Souza

Lula enfrenta o adversário mais desafiador: a lei
Lula deixou a Presidência como recordista de popularidade, com uma aliada na sua poltrona e convencido de que retornaria ao cargo máximo da República. Hoje, Lula coleciona taxas de rejeição acima dos 50%, acaba de assistir à deposição de sua pupila e enfrenta o medo de parar na cadeia. Lula ganhou uma nova qualificação. O procurador Deltan Dellagnol, coordenador da força-tarefa de Curitiba, enganchou no título de ex-presidente a designação de “comandante máximo de corrupção na Lava Jato.”

A denúncia inaugural enviada ao juiz Sérgio Moro injeta o tríplex do Guarujá e o aluguel de contêiners pela OAS no contexto geral da corrupção, caracterizando Lula como ''general'' da bandalheira. E ainda há muito por vir. Lula é acusado ou suspeito —em Curitiba e alhures— de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de inflência, obstrução da Justiça e formação de quadrilha. Traduzindo-se o pesadelo do linguajar do Código Penal para o português das ruas, Lula foi reduzido à condição de um reles suspeito de se beneficiar de dinheiro sujo.

No final de janeiro, em entrevista a um grupo de repórteres-companheiros, Lula jactou-se: “Não sou investigado!” Crivado de suspeitas já àquela altura, permitiu-se um instante de autocongratulação: “Se tem uma coisa de que me orgulho é que não tem, nesse país, uma viva alma mais honesta do que eu.” Decorridos oito meses, o personagem é réu em Brasília e denunciado em Curitiba.

Lula lutou para fugir de Sérgio Moro. Sua penúltima tentativa resultou numa bronca do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Ao negar novo pedido da defesa do ex-presidente para suspender inquéritos que correm contra ele em Curitiba, Teori anotou que a peça não passava de mais uma das inúmeras tentativas de “embaraçar as investigações.”

O morubixaba do PT tem motivos para temer Sérgio Moro. Sem alarde, o juiz encostou a Lava Jato na jugular de Lula. Primeiro, avalizou a inclusão do tríplex 164-A, que a OAS reservara para a família Silva no célebre prédio do Guarujá, no rol de imóveis investigados na Operação Triplo X.

Na sequência, Moro liberou a Polícia Federal para abrir, na mega-investigação do assalto à Petrobras, um inquérito específico sobre o sítio de Atibaia, cuja utilização foi terceirizada a Lula —livre de ônus e sem prazo— por dois sócios do primogênito Fábio Luiz da Silva, o Lulinha.

MPF mostra as provas